sábado, 24 de março de 2012

Dica de Cinema: My Blueberry Nights


Elizabeth, uma típica nova yorkina, vê-se diante de um caos ao descobrir, pela descrição de pratos de um bar próximo a sua casa, que o seu namorado a estava traindo com outra. Jeremy, o dono do bar, observa o desenrolar daquela história e sente-se atraído por aquele drama quase tão comum que curiosamente passa a dividir suas histórias com aquela moça, iniciando uma amizade apressada, mas não superficial.

O fim de um relacionamento pode significar muitas coisas. Um suspiro de alívio, uma dor incurável (há controvérsias), mas para Elizabeth tornou-se uma epifania forçada para recomeçar sua vida. Numa espécie de jornada, ela deixa a solitária Nova York – que no filme nos é apresentada assim – e segue rumo a qualquer lugar onde ela possa conhecer um pouco mais sobre si mesma.

Sua primeira parada é em Memphis, Tennessee. Ela passa então a trabalhar como garçonete em uma lanchonete pela manhã, e num bar a noite, pois mesmo decidida a transitar por entre terras desconhecidas e experiências inesperadas, é preciso dinheiro pra bancar seus desejos – e para viver também. Planejando economizar para comprar um carro, sua vida enquanto garçonete não parece ser um fardo, ainda que a natureza sem perspectiva da profissão pudesse fazê-la pensar ao contrário.



Mantendo contato com Jeremy através de cartas e postais – uma espécie de diário de bordo - Elizabeth conhece uma gama de pessoas que vão se encaixando no seu conceito de auto-descobrimento. Entre doses e porções, Lizzie torna-se confidente de um policial alcoólatra, obcecado por amor e amargurado pelo abandono da esposa e essa mesma esposa, sufocada pelo amor doentio do ex-marido, personagens tão diversos de suas experiências pessoais mas que vão criando ponte na sua história, modelando algumas ideias que, no fim, passam a criar sentido naquela busca de si própria.

Mudando-se para Arizona, Lizzie conhece uma incorrigível apostadora que leva a vida entre mesas de poker e cassinos. A relação de amizade entre as duas é quase tão imediata que Elizabeth a empresta dinheiro, como mais um sopro de espontaneidade e extrema confiança. O pouco tempo que convivem não se destina a construir laços permanentes, mas de uma convicção:

“Nos últimos dias tenho aprendido a não confiar nas pessoas, mas fico feliz que eu tenha fracassado. Ás vezes, dependemos das pessoas como se fossem um espelho,  pra nos definirem e dizerem quem somos. E cada reflexo me faz gostar mais de mim. Elizabeth.”

Curada pelo amor que não deu certo, Elizabeth volta a Nova York e reencontra Jeremy, que nos percalços da vida também teve a chance de desapegar das chaves que colecionava acreditando poder abrir as portas a que pertencem. E as tortas de blueberry, antes intactas ao fim da noite, agora se destina ao gosto daqueles que lamentavam histórias passadas, mas que, seduzidos pelo fruto,  descobrem o sabor de um novo amor.

Dirigido pelo aclamado Wong Kar Wai (À flor da pele), My Blueberry Nights (que em português recebeu a lamentável tradução Um beijo roubado) marca a estréia de Norah Jonas no cinema, que contracenando com importantes nomes como Rachel Weisz, Natalie Portman e Jude Law,  impõe seu profissionalismo e mostra aptidão para o cinema, ainda que a pequenos passos.

  
 






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