Trazendo para a Concha Acústica do Teatro Castro Alves em Salvador uma representação sincera e popular da Bahia, Saulo Fernandes deu o primeiro passo em sua carreira solo no mercado fonográfico de forma adorável. Após 16 anos reunindo sucessos e fãs à frente de Chica Fé e da Banda Eva, a celebração de uma nova etapa veio recheada de antigos amores e novas inspirações, tudo gravado no DVD que chega às lojas do Brasil nesta terça, 12.
Dividido em três partes (roteiro inspirado na canção “Bárbaro Doce Nego”), o show reverencia as culturas que deram início a um Brasil cheio de diversidade, cores e ritmos e consegue arrepiar por fazer da música um caminho para experiências que nos levam às origens e ao amor. A voz de Aloísio de Menezes ao recitar “Somos da Bahia” anuncia o que está por vir em “Raiz de Todo Bem”, música já divulgada há meses na internet e que marca o carinho do cantor com as terras baianas.
Entre os mais de 600 caixotes que construíram o cenário, a representação de uma Bahia negra (que vai muito além da cor de pele) foi representada nos passos afros do grupo de dança ou mesmo nos arranjos que misturam a percussão, o samba reggae e o clássico axé. A segunda experiência do cantor no universo do pagodão baiano merece destaque e veio através de “Azamoa”, um belo culto à cultura indígena que ganhou dancinhas desengonçadas e espontâneas do cantor no palco.
A parte “Doce” do show chega de coração aberto, lágrimas nos olhos e um arrepio delicioso na alma. “Anjo” consegue ficar ainda mais marcante com o novo arranjo, que ganha a companhia de violinos e a vulnerabilidade de um Saulo emocionado com o carinho de uma casa cheia. Mas nem tudo são flores. Se a inserção de violinos deu certo em “Anjo”, o medley “Tão Sonhada / Só Por Ti” não foi tão comovente quanto às versões originais. As músicas perderam o gingado e soaram um tanto engessadas, sem a leveza que as embalavam nos trabalhos anteriores da Banda Eva.
As participações especiais não poderiam ter sido melhor escolhidas. Ivete Sangalo, quase madrinha da carreira de Saulo, dividiu a inédita “União” em uma apresentação cheia de parceria, sinceridade e respeito. Alexandre Carlo, vocalista do Natiruts, traz a influência do reggae tão valorizada no trabalho do cantor em “O Mundo Estava Em Guerra Mas Aqui Era Carnaval”, uma tradução pura do estado de espírito que a magia da folia baiana é capaz de promover.
A última parte do show, "Nego", feita para sair do chão, renova as forças do trabalho solo de Saulo e deixa a certeza de que ainda existirão muitos e muitos circuitos para seguir com o artista. Além das já conhecidas, “Vú” traz a força de um grande hit para o Carnaval 2014, traduzindo o embalo das mais de cinco horas atrás de um trio elétrico.
Em “Terra de Curumin”, não há dúvidas que Saulo figura hoje entre os artistas de maior destaque na música declaradamente brasileira. Entre os bons sentimentos, o resgate às raízes culturais e uma bela dose de animação, o trabalho promete consagrar (se ainda for preciso) o cantor no cenário artístico musical brasileiro.
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