quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Jogos Vorazes: potencializando as questões sociais


Dirigido por Francis Lawrence e baseado nos romances de Suzanne Collins, o filme “Jogos Vorazes – Em Chamas” mostra uma realidade aumentada das coisas mais comuns da sociedade real. Na trama, a jovem Katniss (Jennifer Lawrence) tem que lutar contra um mundo de predestinações, criado especialmente pra ela. É possível ver como cada ação da moça perante as câmeras tende a ser controlada pelos seus mentores, já que ela está condenada a viver eternamente como um personagem, que tem a função de entreter todo o Distrito.

Todo contraste tecnológico e as diferenças sociais são bem marcados, estabelecendo com clareza quem explora e quem é explorado na trama. Outro ponto que chama atenção no filme é o fato de os personagens que trabalham com a mídia serem absolutamente caricatos, fazendo tudo da forma mais teatral possível e agindo como uma espécie de Sílvio Santos com um toque de personalidade do Sérgio Malandro – no caso das mulheres, todas personagens parecem ter saído dos clipes de Lady Gaga.


A introdução do filme é bem longa, mas importante para dar sentido a tudo que o espectador acompanhará durante a batalha propriamente dita. O presidente Snow (Donald Sutherland), convoca de forma arbitrária o casal Katniss e Peeta (Josh Hutcherson) para participar de mais um campeonato, dessa vez com os vencedores das outras edições e verdadeiros assassinos em série.

Já dentro do campo de batalhas, a história é conduzida de forma onde tudo acontece muito rapidamente, e pode ser considerada bem previsível no que diz respeito a quem vai conseguir permanecer vivo até o final. As deixas do roteiro nos permitem esperar um possível desfecho, já que são apresentadas falhas em todos os sistemas eletrônicos, como é o caso do campo de batalhas dos jogos vorazes. Neste momento, Katniss já representa o papel de um mártir político inserido em uma situação que trará ainda mais publicidade para sua militância.

O que me vinha à mente o tempo todo era a vontade de saber se aquelas pessoas sentadas ao meu lado, encantadas com as maneiras como aquela jovem conseguia se livrar da morte, eram as mesmas pessoas que odeiam o Big Brother e seu formato, ou se eram as mesmas que postaram em seu Facebook no momento político mais relevante desse ano, que detestavam a bagunça que os “arruaceiros” do movimento “Vem pra rua” faziam pra que a mídia chegasse até eles. 

Todo sentimento de revolução dentro dos personagens principais do filme tem muito a ver com os outros grandes movimentos que surtiram algum efeito ao redor do mundo, como as mulheres russas lutando por melhores condições de trabalho, por exemplo, que ajudaram a instituir o nosso 8 de março. É preciso “fazer barulho” para que as atenções sejam voltadas para eles, e a personagem de Jennifer Lawrence é especialista nisso. Aquela flechada corajosa da protagonista funciona como todas as atitudes políticas mais pretensiosas, que mudaram o curso da história. Trazendo para mais perto da nossa realidade, espero que os espectadores que lotaram a sala de cinema tenham percebido que Katniss era praticamente um daqueles que tocaram fogo em um ônibus pra reivindicar o aumento de 20 centavos no preço da passagem, intoxicados por todo esse gás lacrimogêneo que é a forma de exercer a corrupção no nosso “Mulato Inzoneiro”.

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