quinta-feira, 10 de abril de 2014

Quando a literatura se une à arte da tatuagem


Expressão social, religiosa ou mesmo um traço que revele mais da sua personalidade. Há quem diga que a prática de marcar o corpo é tão antiga quanto a própria humanidade. Entre os primitivos, tatuar era uma forma simbólica para determinar fatos biológicos, como o nascimento, a puberdade, a reprodução e até mesmo a morte, além de ocasiões sociais como a concepção de um guerreiro, um sacerdote ou um rei.

Certamente você deve se questionar quando foi mesmo que surgiu aquele estigma que, vez ou outra, você ouve por aí: “tatuagem é coisa de quem não presta”. Bobagem dos que dizem isso! Foi na era Cristã que o caráter marginal das tatuagens ganhou força. O cristianismo defendia a ideia de que havia associação do ato de se marcar com elementos pagãos e sustentavam a ideia com o Antigo Testamento. “Não façais incisões no corpo por causa de um defunto e não façais tatuagem” (Levítico 19:24).

Hoje, a tatuagem ganha caráter artístico e retoma sua proposta “primitiva” de marcar fatos sociais, biológicos, afetivos e o que mais caiba pelo seu corpo. Entre as inúmeras inspirações na hora de marcar a pele de forma (talvez) eterna, a literatura se mostra como uma grande motivadora. Um personagem favorito, a citação do livro que te marcou, a poesia que parece dialogar com seu momento de vida; tudo isso parece ganhar vida nos traços de tinta que se desenham sobre a pele.

Eles adotaram a literatura no corpo
Gisele Aguiar, jornalista, e Andressa Xavier, estudante de Arquitetura, são namoradas e resolveram marcar o momento de vida que compartilham com um trecho do clássico livro “O pequeno príncipe”. A frase “Só se vê bem com o coração, o essencial é invisível aos olhos” ganhou expressão em francês e foi dividida no corpo das duas. “As duas frases são bem significativas. ‘O essencial é invisível aos olhos’ é um lembrete de que as coisas mais importantes da vida nem sempre são palpáveis, e o amor é a maior delas. Em momentos de dificuldade, como tivemos, vale mais seguir o que te faz feliz de verdade do que dar maior valor a coisas materiais ou, até mesmo, se importar com o que outros acham ser o certo”, declara Aguiar.

Gisele e Andressa fizeram a tatuagem no mesmo dia

Quem também resolveu expressar um traço da sua personalidade através da tatuagem foi Dave Jacinto, consultor de vendas. Com 13 tatuagens pelo corpo e as mais diversas referências para cada uma delas, Dave tem uma poesia de Arnaldo Antunes em seu braço. As letras de “hentre hos hanimais hestranhos heu hescolho hos humanos” foram escolhidas tanto pela forma como pelo jeito com que fala das relações humanas, tão valorizadas por Dave. “Gosto da forma da poesia porque ela não tem a escrita convencional corrida de uma poesia tradicional. Ela tem forma, tem algo de incomum e está relacionada com a vontade que eu tenho de estar perto das pessoas, de me relacionar com elas”, explica.

Dave não descarta a possibilidade de a literatura o inspirar para uma nova tatuagem

Mais profissional, mas com o mesmo sentimento de expressão particular, o dentista Neto Miná escolheu uma frase do seu livro preferido: “Xamã”, de Noah Gordan. A obra narra a história de um médico surdo que resolve ir morar nos Estados Unidos e se conecta com o sentimento de respeito que Miná traz diariamente para sua profissão. “O contexto em que ela foi dita tem um significado, expressa o meu respeito e a confiança que eles depositam em mim toda vez que vou atendê-los”, justifica.

Miná tem tatuado também Charlie Brown e Snoppy, suas tirinhas preferidas

Marcar o corpo é também uma forma de construir um pedaço de sua identidade através da expressão de ideias e de contextos pessoais. É como dizer por meio dos desenhos na pele o quanto aquilo te representa, nos mais diversos espaços da sua vida. E cá pra nós, nada mais inspirador que as páginas de um bom livro para dar contornos àquilo que sentimos, não é mesmo?

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