Semana passada, eu comentei os filmes indicados ao Oscar 2014 aqui e aqui. Volto agora com os três últimos. Pega o café com chimango feito pela avó e corre para nossas histórias.
7. Clube de Compras Dallas (Dallas Buyers Club)
Foi diagnosticado com AIDS? É gay. Na época do Cazuza era assim. AIDS era um negócio exclusivo de viado e travesti. E é neste cenário preconceituoso dos anos 80 que Ron Woodrof se descobre com HIV. Mas Ron não é bicha. Não, não. Ele é um cowboy mulherengo, rude, cachaceiro e homofóbico. Todo trabalhado na heterossexualidade: desde o bigode e o cinto até aquele típico olhar de cachorro faminto para as mulheres que nenhum Colírio da Capricho (vocês acreditam que isso é uma profissão?) conseguiria fazer.
Ron (interpretado brilhantemente por um magrelo Matthew McConaughey), abandonado pelos amigos que começam a achar que ele é do time do Zeca Camargo, não aceita o quase diagnóstico de morte e parte em busca de sua própria sobrevivência. Usando da malandragem, ele chega ao México e consegue levar para os EUA drogas ilegais e eficazes no tratamento da HIV, e logo começa a vendê-las em Dallas, montando um Clube de Compras. Os doentes pagam e têm acesso a diversos medicamentos. É então começa a briga entre Ron X Governo idiota e médicos mais idiotas ainda. E nós? Criamos simpatia pelo cara, principalmente, porque o braço direito dele no Clube é o hilário travesti Rayon.
A relação de Ron com Rayon (Jared Leto, seu lindo!) é o ponto forte do filme e responsável por vários momentos de leveza. Achei impressionante, aliás, que eles conseguiram contar uma história de AIDS nos anos 80 com muita leveza e sem muito dramalhão. É engraçado ver a transformação natural do protagonista tendo que lidar com todos os seus preconceitos. Rayon é incrível e realmente me tocou com a sua sensibilidade. E olha que sempre tive um pouco de medo de travesti (que sei lá eu o motivo).
O bom do filme é que Ron não vira Madre Tereza com a doença. Ele continua salafrário. Há mudanças, claro, mas isso é lógico. Ele ajuda os doentes vendendo a medicação, mas se a galera não tem dinheiro, não rola os remédios. É um negócio. Um empreendimento. E, como “Lobo”, é a história de um cara real que vai muito além de contar uma biografia.
Destaques
Assim como o Bradley Cooper, de “Trapaça”, McConaughey abandonou de vez o gostosão das comédias românticas para virar um ator que aceita todas as transformações de um personagem. E se joga. Ele fez aquela aparição memorável em “Lobo”, e arrasou na pele de Ron. Aplaudindo muito.
Jared Leto, todos os prêmio de Ator Coadjuvante são seus. Que travesti formidável você foi, cara. Conseguiu me emocionar. E, olha, você como traveco é muito melhor do que como cantor. Fica a dica, amizade.
Eu sempre AMO a Jennifer Garner. AMO. Acho uma fofa, uma linda, e ela é casada com o Affleck (topo o casal!). A participação dela não é muito relevante, mas babo mesmo porque sou apaixonado. Um cheiro, Jen. Me liga.
Li que o filme foi feito com pouco mais de cinco milhões de dólares. Uma pechincha em Hollywood. Só para comparar, “Gravidade” gastou 100 milhões.
Falhas: O filme pesa a mão na heterossexualidade de Ron. A todo o momento é uma dose imensa de macheza para mostrar que ele e Rayon não se relacionam. Sei lá, achei exagerado.
Apostas e Torcidas: Acho que Jared Leto leva Melhor Ator Coadjuvante. E será bem merecido. Um beijo pras travestis.
8. Nebraska (Nebraska)
Quanto ganha? Um milhão de dólares. O que você tem que fazer? Sexo com o Robert Redford. MENTIRA. Este é “Proposta Indecente”, filme dos anos 90 com Demi Moore (vejam porque é legal). Agora, vamos lá. Quanto ganha? Um milhão de dólares, prometido em uma carta-propaganda que chegou pelo Correio. O que você tem que fazer? Ir buscar o prêmio em Nebraska. Este é o início do filme que acompanha a história de Woody Grant (Bruce Dern), um idoso alcoólatra indiferente ao mundo, que acredita naquelas mensagens que diz que a gente vai ganhar 300 mil se responder não-sei-o-quê para não-sei-lá-onde, e não tem ser vivo que o convença de que é, sei lá, mentira, porque essas coisas não acontecem. Mas ele acredita na carta. Acredita piamente. E tanto, que decide ir a pé de Montana até Nebraska (que eu não sei qual a distância, porque já sou burro o suficiente em geografia brasileira) buscar a bolada. O filho mais novo, Dave (Will Forte), que tem um coração bom (e é um fofo, me abraça), apieda-se do pai e decide levá-lo de carro. E aí começa a viagem.
É daqueles filmes que procuram o sentido da vida com uma coisa bem banal. Falando assim, parece filosofia chinfrim de O Mundo de Sofia, e eu morro de preguiça dessas prosas. Ainda mais que a fotografia do filme é preto-e-branco e o cenário é sem vida, e já cheguei cismado para assistir. Ou seja, nada que empolgue, certo? Errado. Os diálogos são ótimos, os momentos pai-e-filho conseguiram me ganhar, e alguns conflitos são interessantes. O prêmio de um milhão é algo que serve para tirar o velho daquela mesmice sem fim, e o seu filho (e a gente) começa a entender isso em certo ponto do caminho. E o filme vai crescendo.
O humor, tão presente nos filmes do Oscar este ano, está presente com a mulher de Grant (June Squibb). Ela é aquela engraçada mal humorada que arranca risadas com seu jeito turrão. Lembrou muito a minha avó, que ama a gente em cada xingamento e apelido. <3
É lindo quando eles chegam ao fim da jornada. A gente percebe que a única doença de Woody é SÓ acreditar nas pessoas. Mas, afinal, quantos de nós não tivemos que fazer também uma grande caminhada para saber que isso pode ser um grande erro?
Destaques
Dern tem 77 anos e dá um show de atuação. Toda a condução que ele deu ao personagem é muito bonita. Está concorrendo a Melhor Ator, muito justamente. Squibb também arrasa e garantiu ótimos momentos. Ela foi indicada a Melhor Atriz Coadjuvante. Muito fofos esses dois arrasando pela vida com a cara cheia de rugas, mas com muito mais vida do que todos vocês.
Ai, gente, o Will Forte não é nem tão bonito, mas ele é um ator tão sensível e o BoB Odenkirk (nosso eterno Saul Goodman, de “Breaking Bad”) tem momentos intensos como o filho mais velho de Grant.
Falhas: Algumas subtramas são desnecessárias. Aquele povo pedindo dinheiro foi totalmente forçado.
Apostas e Torcidas: O filme recebeu uma carta-propaganda do Oscar, e se empolgou com o prêmio. Quando chegar lá, vai sair de mãos vazias.
9. Philomena (Philomena)
Vou dizer a vocês que “Philomena” tem a história de novela das 9. Mulher engravida contra vontade do pai e é obrigada a ir viver e trabalhar em um convento. Tem o filho arrancado dos braços por uma irmã e ele é vendido para americanos. 50 anos depois, já idosa, vai atrás do menino com a ajuda de um jornalista. Quase “Senhora do Destino”. Poderia cair no dramalhão besta, mas não. O filme emociona e faz rir. É lindo, e conta com atuações impecáveis.
“Philomena” é baseado em uma história real. Era aquela Irlanda católica e insuportável dos anos 50, onde as freiras eram verdadeiras bruxas (hoje elas parecem tão fofas, né?). Mulheres que engravidavam sem se casar eram escravizadas em conventos e obrigadas a entregar os seus filhos. Mas, gente, não tinha a opção de ir para um lugar menos chato, não? Tipo uma penitenciária, sei lá.
O grande mérito do filme é a relação que se constrói entre Philomena (Judi Dench, MARAVILHOSA) e o jornalista Martin Sixmith (Steeve Coogan, brilhante). Ela, apesar de todo o martírio de rezar o terço e lavar as calcinhas das irmãs no convento, continua temente a Deus e carrega muita fé no coração, além de ser uma simpatia de pessoa. Ele, intelectual e ateu, sem nenhuma paciência com essas histórias pessoais emocionais. Juntos, eles têm que conviver com as suas diferenças e acabam criando um laço bonito. E, claro, protagonizam cenas deliciosas de humor.
O filme não apela para sentimentalismo exacerbado, e muito menos tenciona ser antirreligioso ao extremo. É tudo muito dosado, muito encaixado, muito bem feito. E uma curiosidade incrível: a verdadeira Philomena está aí, linda e viva, à frente de um grupo que ajuda mães irlandesas que, como ela, teve o seu filho arrancado dos braços por Nazaré Tedesco.
Destaque
Judi Dench está diva. Meu Deus, que amor por essa mulher. As tiradas cômicas dela são ótimas, e seu desempenho é formidável. Coogan também arrasa muito com aquele jeito mal humorado, cético e impaciente que ele emprestou ao personagem. E, gente, quem é a moça que faz a Philomena jovem ainda no convento? Ela foi incrível em sua participação.
Falhas: Uma falha a ser apontada é que não temos o lado das freiras ou da Igreja, porque é importante ouvir o que eles têm a dizer. Não acham? Não? Então, ok.
Apostas e Torcidas: Acho que não ganha, nada. Mas foram merecidas as indicações para Melhor Filme e para Melhor Atriz (me abraça, Judi). Será que ganha para Roteiro Adaptado?
Chegamos ao fim. E aí? Acho que não temos nenhuma certeza para domingo. Tudo muito lindo, tudo muito concorrido, tudo muito agradável. Só temos, afinal, uma única certeza para essa cerimônia do Oscar: Jennifer Lopez COMO SEMPRE vai errar rude no red carpet.
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