Comecei a escrever aqui no Portal sobre os filmes indicados ao Oscar 2014. Para quem não viu o primeiro texto, corre aqui. Depois, pega o brigadeiro de panela e corre para cá que tem mais história.
4. O Lobo Mau de Wall Street (The Wolf of Wall Street)
Orgias, drogas, milhões de dinheiros, um leão circulando pelo escritório. Mais? DST, loiras gostosas enroladas em notas graúdas, Ferrari. Ainda mais? Banhos de champanhe, iate, cocaína. Vocês querem mais? Dinheiro jogado no lixo e um anão atirado ao alvo. Ainda tem mais, muito mais, e qualquer espaço não seria suficiente para enumerar todas as loucuras e excessos presentes no filme, que conta a história real de Jordan Belfort, um dos fundadores do TelexFree corretor da bolsa de valores fraudulento, que ganhou milhões engabelando um monte de gente lá no início dos anos 90. A união da lábia de pastor evangélico com o carisma de candidato a prefeito do interior fez de Belfort o rei dos truques no mundo das ações, convencendo a galera a investir em coisas sem nenhum valor.
Quando eu fui assistir ao filme, eu não sabia que seria tanta risada. Olha, é hilário. Comecei a rir desde a cena espetacular em que McConaughey (não lembro o nome do personagem) cantarola uma música. Jordan fala com a gente ao narrar (palmas para o recurso que funciona tão bem aqui) e o seu tom é sempre cínico. Cara lavada mesmo. “Lobo” tem cenas épicas: o diálogo em um iate entre um agente do FBI (quem é aquele ator bonitão, meu povo?) e Jordan, um tentando enganar o outro, é incrível, para citar apenas um entre tantos momentos memoráveis.
O filme é imoral, mesmo. Assim como “12 Anos” não maquiou a Escravidão, “Lobo” não dosou a mão para dizer que, sim, esse povo que fica milionário engabelando o povo otário tem uma vida muito boa. Que sim, a vida do crime compensa. Que sim, quem não quer iates, putas e morangos? Que não, não existe justiça. Porque essa galera do filme é real, e eles enchem a cara de todas as cachaças, comem putas sem camisinha, cheiram cocaína e todas as drogas que aparecem pela frente, e saem ilesos. Nem justiça divina, porque eles não morrem nem de overdose. E o que acontece quando são pegos? Ficam uma temporada em uma penitenciária de luxo, e saem para escrever a sua história que, inevitavelmente, Hollywood irá filmar. E, no caso do verdadeiro Jordan Belfort, teve o extra de virar palestrante motivacional para ensinar técnicas de venda.
Destaques
Leo DiCaprio HUMILHA na melhor atuação da sua carreira. Uma carreira, aliás, que é marcada por atuações incríveis. Ele é foda, está dominando todos os prêmios e já viu a Gisele Büdchen nua (ponto extra). Jonah Hill está fabuloso no papel de Donnie. O filme já vale pela cena em que ele come um peixe. E garro amor porque o ator é como eu: magro fica lindo (brigado eu), e gordo fica horroroso (nenhuma saudade).
Scorsese fumou maconha e ficou meio leso para filmar “Hugo Cabret”, mas aqui ele cheirou cocaína e mostrou que ainda está em forma. Direção eletrizante. Arrasou. E eu puxo o saco mesmo porque ele é o meu diretor favorito junto com o Tarantino. Mas o destaque principal vai para a palavra “fuck”: ela é dita 506 vezes durante o filme, sendo o recordista do uso da expressão. FODA.
Falhas
São três horas de filme (muito tempo mesmo!), mas não chega a cansar, porque é dinâmico. Eu dosaria, talvez, a cena da paralisia cerebral que se arrasta muito.
Vários familiares de pessoas enganadas pelo Jordan real reclamaram que o filme glamourizou o calhorda. Não sei o que pensar, porque é foda (pode bater o recorde da palavra “foda” escrita em um texto?) opinar sem ter vivido. Mas o DiCaprio disse que eles optaram por ser fiéis à história e mandar às favas a mensagem Caio F. Abreu.
Apostas e Torcidas: Não ganha melhor filme, porque o gênero não agrada de jeito nenhum os caducos da Academia. Amo o Scorsese e, por mim, o prêmio seria dele. Acho que é muito pouco reconhecimento para um diretor genial. Mas digo uma coisa para vocês: se o DiCaprio não ganhar como Melhor Ator, eu paro de beber.
5. Capitão Phillips (Captain Phillips)
Quando eu assisti a “Pearl Harbor” (vejam, porque tem o Ben HOT Affleck), uma coisa me incomodou: quando os japoneses vêm atacar o porto, o filme exagera nas cenas de criancinhas e velhinhos passeando no parque de mãos dadas. Como se gente muito malvada estivesse chegando para acabar com a felicidade de comercial de margarina, sendo que tem toda uma história por trás. Tenho um bom olho para reconhecer esse patriotismo heróico americano de Hollywood (que me irrita), e percebi em alguns momentos em “Phillips”.
O filme é baseado em uma história real de um comandante naval com uma missão, que acaba sendo surpreendido por piratas somalianos armados que querem dinheiro. Phillips, um americano bom e calmo (claro), tenta a todo custo negociar com Muse, o capitão pirata, um homem cruel e irônico (claro). Sem sucesso, começa uma sequência de tensão e adrenalina.
A tensão, inclusive, é o ponto alto e conseguiu me manter interessado na história do início ao fim. Outra coisa legal é que acompanhamos os anseios e personalidades dos dois capitães. Não ficamos apenas com a visão de Phillips. O filme também mostra as aspirações do líder dos piratas, e conseguimos entender algumas de suas ações.
Vou logo dizer que não tem ninguém de bonito pra gente olhar. Mas é ótimo para quem curte um suspense bacana.
Destaques
Hanks foi bem, blábláblá, mas, se nem a Academia deu valor pro cara (ele ficou de fora na briga por Melhor Ator. HAHAHAHA), quem sou eu para gastar elogios aqui? Eu achei o outro capitão (o líder pirata) muito bom. Nunca ouvi falar daquele ator (é novato?), mas ele deu um show de interpretação com os olhos e arrasou nas cenas de cinismo. Está concorrendo como Melhor Ator Coadjuvante, justamente.
Falhas: Que drama cansado o fim do filme, minha gente. Não consigo gostar daquela prosa chorosa de “diga a minha família que ela é tudo pra mim, que eu a amo”, enquanto rola um som cafona qualquer.
Apostas e Torcidas: Não ganha, gente.
6. Ela (Her)
Eu já amo esses filmes que trata com delicadeza de gente como a gente, que tem inquietações, dias de tristeza, limitações e um inevitável bad hair day (quem nunca?). “Ela” é o mundo em que nós vivemos (passa em um futuro próximo, na verdade), onde as reuniões de amigos e até mesmo aquele sexo gostoso é interrompido por uma chamada urgente no WhatsApp. As relações humanas estão ficando para trás, e já tem uma galera mais nova que prefere ficar batendo papo com um estranho do Piauí no Facebook do que sair para flertar nos botecos. Nas redes sociais somos corajosos, oras. Na boate, a gente é aquele garoto cheio de espinha que não sabe como puxar um papo.
Theodore (casa comigo, Joaquim Phoenix?) é a gente daqui a algum tempo: solitário, separado e punheteiro de vídeo-game, que encontra na tecnologia o carinho que seu coração precisa. Theo começa a se relacionar com Samantha, um Sistema Operacional de alta tecnologia, que consegue compreender todas as suas necessidades e seus desejos. Eles começam a flertar e surge um romance. Sim: homem e máquina. Quem já conversou com Eduardo, atendente virtual da Oi, sabe que é realmente possível a gente garrar ódio por alguém só pelo som da sua voz. Eduardo e eu tivemos uma relação saturada que acabou em inimizade profunda. Sim: homem e máquina. Ora, se pode rolar antipatia, por que julgar alguém que cria simpatia?
Além disso, não julgo o Theodore porque ele se apaixona pela voz da Scarlett Johansson (casa comigo também?). Só a voz dela vale todas vocês juntas. Se o mundo virtual é a voz da Scarlett e o mundo real são as piriguetes tirando foto de biquinho no espelho dos barzinhos, eu também fico com a máquina. E que MÁQUINA, meus amigos.
O bom do filme é que a ideia não é absurda. Não parece que estamos distante da realidade do filme. Já imagino realmente um sistema operacional tipo a Samantha (Johansson) sendo amiga, amante e conselheira de várias pessoas que não têm autoestima para se achegar em alguém no meio das festinhas. Ou até mesmo saco para ficar ouvindo o Lepo Lepo num lugar abarrotado de pessoas se esfregando.
O problema? A gente sente falta de afago de verdade. Sente falta de brigar pela sobremesa, de cochilar no peito e de liberar o tindolêlê. Theo, mesmo apaixonado por Samantha, continua com aquele olhar cabisbaixo e aquela eterna cara de virgem do vídeo-game. Tem uma injeção de autoestima, mas cadê o cheiro no cangote?
Destaques
O maior destaque é a voz da Scarlett, gente. Juro. Ela consegue ser espetacular sem usar toda aquela beleza. Os risos, as pausas bem elaboradas, o jeito lindo de conquistar. Até eu me apaixonei. Além de ser diva, ela já viu o Ryan Renolds nu (aplausos).
Phoenix também vai bem, muito obrigado. E, como Sandrinha em “Gravidade”, ele leva muito o filme sozinho. Uma atuação contida e uma construção maravilhosa do personagem. Palmas para a cena do descontrole com o “sumiço” de Samantha.
A sempre incrível e deliciosa Amy Adams aparece rapidinho. Ela é destaque sempre. Um beijo, sua gostosa. Gostosa também é a trilha e o roteiro é muito amor.
Falhas: Não consegui pensar em nada muito relevante, então vou reclamar daquele bigode que colocaram no Joaquim Phoenix. Não ficou legal, mas o pedido de casamento continua.
Apostas e Torcidas: Não ganha para Melhor Filme e não foi indicado para nenhuma outra categoria relevante. Mas se The Moon Song ganhar como Melhor Canção Original, eu vou ficar feliz. Dê o play e veja que fofa. ><
Então é isso, pessoal. Matamos mais três filmes. Depois voltaremos com “Clube de Compra Dallas”, “Nebraska” e “Philomena”. Acabou o brigadeiro ou sobrou um pouco para o escriba que vos fala?
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