terça-feira, 26 de novembro de 2013

A camisa do bom senso


A cada dia surgem mais e mais relatos de fãs que vão ao absurdo para externar a paixão pelos seus ídolos. Eles ficam dias acampados nas filas do show, gravam vídeos com notável excesso de drama e histeria e ainda há aqueles que se mutilam em nome do amor (ou da loucura) que sentem pelo artista. É um fenômeno que se tornou muito comum: não se veste mais a camisa do bom senso.

Curtir o trabalho do seu artista predileto não é nada demais, afinal sempre rola aquela identificação com a trajetória musical e com o conceito que ele imprime nas letras e nos arranjos. O problema começa quando o limite que separa a admiração da obsessão é ultrapassado.

Se "você não sabe o que a Demi Lovato passou", certamente os seus fãs sabem. Eles enchem as páginas da internet com vídeos em que transvestem o sofrimento da cantora (que já enfrentou sérios distúrbios alimentares e psicológicos). Alguns, mais exagerados, chegam a se cortar como uma forma de expor solidariedade e admiração pela história dela.

Lennon e Chapman na noite do assassinato.
Ainda há casos mais extremos quando o amor é substituído proporcionalmente pelo ódio. Foi o que aconteceu no assassinato de John Lennon, onde Mark David Chapman, fã incondicional dos Beatles, indignado com algumas afirmações do cantor sobre Deus, começou a nutrir um sentimento de revolta e ódio, motivando-o a apertar o gatilho na noite de 8 de dezembro de 1980.

A questão não se pauta em ser ou não ser um apreciador das produções artísticas, mas sim na medida em que se expõe a sua própria figura em subserviência ao fanatismo. O artista busca um público que tenha afinidade com seus trabalhos, que lhe garanta certa fidelidade, e é aí que se abre espaço para interpretações equivocadas e excessos. Mas em todo caso o bom senso é sempre o melhor filtro.

Para ser um admirador não precisa se sujeitar a certas situações que são, no mínimo, constrangedoras. Automutilação, greve de fome, invasão de privacidade do seu ídolo ou circulação de vídeos do tipo "leave Britney alone" não vai te fazer mais fã do que quem não se expressa dessa maneira. Há sempre um jeito sóbrio e saudável de conseguir impressionar e garantir a preservação da sua imagem.


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