segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Tulipa: nada efêmera


Com dois álbuns lançados, inúmeras parcerias especiais e o desejo de fazer arte em cada detalhe do seu trabalho, Tulipa Ruiz já está entre as cantoras mais talentosas dessa nova geração. A mineira já conquistou o título de melhor álbum do ano com Efêmera (2010) pela Revista Rolling Stone, participou de festivais no Brasil e no mundo e traz na bagagem referências que vão de Manoel de Barros a Joni Mitchell.

O Todavia bateu um papo delicioso com Tulipa sobre processo criativo, a experiência de festivais, as mudanças na indústria fonográfica e muito mais.


Você disponibilizou seus álbuns para download gratuito em seu site. Como você vê essa realidade da distribuição da música no mercado dentro de um contexto onde o MP3 tem ganhado cada vez mais espaço?
Acho que a gente está muito na curva da indústria fonográfica e não dá pra mensurar exatamente todas essas coisas. No caso de eu ter colocado meu disco para download, acredito que o download é um começo de uma relação do artista com o público. Quando eu baixo um disco, se eu gosto desse disco, quando tiver um show desse artista provavelmente eu irei ao show. Se eu gostar do show, comprarei o CD. Hoje em dia, as pessoas escutam música de um jeito tão diverso, por isso, quero facilitar o acesso a ela. Antigamente, o ouvinte tinha um perfil só. Ele ouvia a música na TV ou no rádio, ia à loja e comprava seu disco. Hoje em dia, não. O grande olhar desse momento tão mutante da indústria é você perceber que o público é híbrido. 


A preocupação estética do seu trabalho vai muito além da sonoridade. Como que acontece essa parte da criação de todo seu trabalho?
Não tem uma fórmula, cada hora ela acontece de um jeito. As únicas coisas que se repetem é que tenho sempre um gravadorzinho, um papel, uma caneta e, quando pinta uma ideia, eu registro. Às vezes é uma inspiração que vem de uma vez ou pode vir em forma de exercício. O processo criativo também é mutante.

Participar de um festival é sempre uma oportunidade de explorar a diversidade sonora. Você que fez shows em vários lugares do Brasil e do mundo, como você vê a importância desses espaços para a cena atual?
É um momento de troca muito especial e fundamental hoje em dia. Espaços onde a gente pode se colocar, conversar, trocar relatos de experiências diversas. A própria característica de Festival é a diversidade, as programações variadas. Sempre que eu toco em um festival, fico muito feliz, porque é como se a gente saísse de uma catalogação específica e fosse pra um lugar mais diverso, onde eu fico muito mais a vontade de estar.

Falando em troca de experiências, você já trabalhou com muitos artistas como Criolo, Leo Cavalcanti, Lulu Santos, além de dividir o palco com tantos outros. Como funcionam essas parcerias e quem ainda não rolou e você tem vontade?
É sempre uma escola. Os medalhões, os grandões que eu encontrei pelo caminho – Lulu, Lenine, Zélia Duncan, Milton Nascimento – sempre foram momentos muito especiais para mim, onde eu aprendi muita coisa. São verdadeiros mestres. Com a moçada nova é sempre um barato, sempre um grande encontro. Acho que é uma característica da música ser esse espaço onde a gente encontra criativamente outras pessoas e se relaciona com elas. São vários casamentos aí, poligamia total! Gostaria muito de ir ao Pantanal, visitar o Manoel de Barros e tentar musicar alguma coisa dele, tomando um cafezinho com ele.

Existe uma pressão por conta de um novo disco ou de uma nova música?
Eu sou filha de crítico musical, então, essa coisa de crítica não me assusta muito. Gosto muito de vinil, então, a rapidez das coisas não me assusta tanto. Meu primeiro disco chama “Efêmera” justamente para discutir isso tudo. Eu não tenho pressa nenhuma para lançar o próximo disco, vou desfrutar totalmente do “Tudo Tanto” até o ultimo segundo. Gosto de acreditar que as coisas não são tão perecíveis assim.

O que você indicaria musicalmente para os leitores do Todavia?
Uma banda nova de São Paulo chamada Primos Distantes.

Para terminar, responde pra gente: a ordem das árvores altera os passarinhos?
Se a gente for pensar em ecologia, obviamente altera. Mas, com a licença poética, não altera não.

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