segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Papo de Menina - A insustentável (falta de) leveza do ser


Demorei pra identificar em mim os sintomas da crise de ansiedade. Muito mais do que um problema de saúde, é uma questão de como você enxerga a vida. Não me lembro de nenhum momento em que não tenha sofrido por antecedência ou me frustrado demais com alguma decepção. Até determinado ponto, sempre achei que fosse algo normal, completamente aceitável.

Para a criança, especialmente para a criança ansiosa que eu fui, se antecipar aos acontecimentos é algo muito comum. Ficar nervosa antes de datas como aniversário, Natal, viagens e início de aulas era perfeitamente dentro do esperado. Com o passar do tempo, não consegui me livrar de alguns hábitos e de posturas que me traziam a tal da ansiedade. Sabe quando alguém vira para você e fala “preciso conversar com você”? Pra mim, sempre foi a pior situação que poderia existir. E os sintomas são sempre os mesmos: dormência nos membros, falta de ar, uma leve confusão mental... nada agradável. Lembro dos primeiros rapazes que me relacionei e como ficava tensa só de pensar em ter que beijá-los.


Aos poucos, a sensação deixou de fazer parte da minha vida apenas no quesito meninos e tomou conta de outras coisas. Fazer provas, conversar, assumir grandes responsabilidades. Para quem acha que é frescura, digo com todas as letras: NÃO É! Após o período de monografia, onde todo o mundo fica normalmente agitado, tive uma série de noites com o sono interrompido. Todos os dias, acordava exatamente no mesmo horário, às 2h57, e só voltada a dormir já com o dia claro. Só sentia medo, um arrepio, além do suor frio e da vontade de sair correndo. Chegava a caminhar pela casa toda na tentativa de me sentir cansada e o sono voltar.

Depois de enfrentar as primeiras noites sozinha, passei a incomodar a minha mãe, pedindo que ela dormisse comigo, para amenizar as sensações ruins. Apesar do esforço dela, a companhia não teve efeito nenhum e só piorava quando eu passava mal. Quando comecei a ter os sintomas também durante o dia, a coisa ficou um pouco mais delicada. Passei a ter crises no ambiente de trabalho, no meio da rua, em casas de amigos. A primeira crise durante o dia foi a chamada dissociativa, onde parece que o cérebro não consegue enviar os comandos para o corpo – apesar do esforço enorme para falar e se mover, não há nenhum tipo de movimento ou palavra que você consiga emitir.


O que eu aprendi com isso tudo? Que o nosso ritmo de vida acelerado faz com que se torne cada vez mais difícil se concentrar em apenas uma coisa, se dedicar a apenas uma coisa. E que essa sobrecarga de informações pode agravar em nós posturas que nem sabíamos que eram tão prejudiciais. O segredo está na leveza, na forma como encaramos as coisas. Fernando Anitelli, que carrego pra vida, disse algo que faz total sentido, ainda mais depois do que passei: “Camarada, viva a vida mais leve, não deixe que ela escorregue e te cause mais dor”. 

É prestar mais atenção aos pequenos detalhes, respirar com mais calma, se permitir dançar aquela música que tanto gosta quando ninguém está olhando. É não levar tudo tão a sério, aproveitar cada segundo e entender que o momento presente é inevitável – o que podia ter sido feito pra mudar está no passado, nos cabe colocar a concentração em viver, independente do erro cometido, buscando acertar na próxima oportunidade. Tornar-me mais leve é o meu principal desafio e a minha maior meta.


As fotos que ilustram a matéria são de Christian Hopkins, um garoto de 20 anos que utilizou a fotografia como terapia. Mais fotos podem ser vistas no Flickr de Hopkins.

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