sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Endireite os humanos


Em uma reunião de pauta, entre uma discussão e outra, com assuntos que poderiam ficar para depois, surgiu a ideia de escrever sobre os Direitos Humanos. É isso que ainda está em alta, é nesse tema que vemos os jornais diários se pautando. São os olhares tortuosos para a jornalista com nome de odalisca, contadora de histórias árabes, que estão espalhados pelas postagens no facebook e twitter.

Pois bem, é na verdade sobre a sinceridade que escrevo hoje. A sinceridade de alguém que teve realmente que procurar no Google o que são esses direitos, e como eles funcionam. Eles funcionam? De alguém que descobriu uma data comemorativa no seu calendário, que passava despercebida, claro! É no mês da chegada do Papai Noel que se comemora o Dia Nacional dos Direito Humanos, precisamente no dia 10 de dezembro. Não dá para competir, entendo.

Me vi pasmo com tudo, até mesmo com o fato de ter que usar um recurso da internet para saber quais são os direitos que me assistem. Eu realmente não sabia, e não sei um monte de coisa que vi escrita ali naquela declaração. Não faz sentido, não acontece na prática. Vi entre os artigos dispostos, pontos em que eu não me enquadrava, como ter que agir com o outro de forma fraterna. Quantas vezes já vi pessoas passando necessidade na rua e continuei caminhando? Aquilo de alguma forma não me tocou, já estava acostumado a ignorar, talvez porque sou uma péssima pessoa, talvez porque andei aprendendo com outras pessoas e só estava ali repetindo o (não)gesto.

Em outro ponto do artigo, também é possível encontrar um trecho que nos fala da liberdade religiosa, e já me veio à memória o “pouquinho” de preconceito que já tive com relação às religiões de matrizes africanas. Anteriormente li, nesta declaração datada do ano de 1948, que ninguém pode ser arbitrariamente preso ou exilado, e pensei onde estava esse texto quando Herzog se matou (tosse) nas instalações do DOI CODI? Sim, porque o texto e os fatos se contradizem inclusive com outro ponto que fala da liberdade de consciência e expressão, dentre elas a política, que todos nós temos direito.

Olhei pra mim, e me lembrei de ouvir meu pai dizer a seguinte frase: “Queimou colchão, dorme no chão”. Me veio à lembrança o fato de concordar com ele. Sim! Por que presidiários que se rebelam, matam funcionários e colegas de cela, que estão lá por terem sido tão ilícitos a ponto de estarem presos, têm que ser assistidos por esses direitos? Eu não havia lido ainda toda aquela história da carochinha, visão talhada, descobri naquele momento: eu era senso comum. Me perdoei.

Mas me senti mal de verdade depois de assistir a declaração da jornalista Sheherazade, e perceber que uma pontinha de mim gritava alguns daqueles sentimentos. A insatisfação com o sistema e a sensação de insegurança constante me levaram a sentir um pouco vingado ao ver o jovem ladrão amarrado a um poste. Pela quantidade de latrocínio na minha cidade, pela quantidade de histórias de violência, sejam elas quais fossem, achei que a didática “olho por olho, dente por dente” estava demorando a acontecer. Eu só queria que pudéssemos gozar dos direitos à segurança, também presentes na declaração! Minto. Eu ainda não sabia que estavam lá todos esses direitos e nem o Artigo V, redigido da seguinte forma: “Ninguém será submetido à tortura, nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante”. Era só mais uma desculpa para não ter culpa nenhuma.

Digo todas essas coisas sobre mim e exponho somente a mim, porque sou a única pessoa que pode dizer todas as coisas que se passam dentro dessa cabeça. Na verdade, sou errante. Parece que sozinho, estou enganado? Sinto-me ignorantemente certo de que já não sei mais onde estou indo e não sei o que vai me parar lá na frente. Certo de que falo sobre direitos, quando não exerço os deveres, e sequer tenho certeza de quais são. Honestidade comigo mesmo, olhar para mim e ver o tanto de embaraço, de dúvidas que ainda não me permite estabelecer com propriedade o bem e o mal, o certo e o errado.

Sinto que preciso me informar mais sobre tudo, todo dia aprendendo que ainda não aprendi, pra só assim, ser menos burro. Acredito, e desejo que você não tenha se reconhecido em nenhum momento na leitura desse texto, pois isso prova que você está pronto, e que não é um humano como eu, que precisa se consertar também.

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