segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Papo de Menina - TÁ-DÁ


Nos meus devaneios mais tresloucados nunca, nunquinha, imaginei que aos 19 estaria grávida. A ordem certa não é faculdade, mestrado, casar e depois, talvez, ter filhos? Não, não é. Isso veio escrito aonde mesmo?

Acho que engravidar é o maior medo de quem ainda não terminou a faculdade e sonha em exercer a profissão que escolheu. A primeira coisa que se pensa é que vida acabou, depois você lembra de todas as pessoas que engravidaram cedo e tiveram que abdicar da vida social, profissional, matrimonial e todos os outros ‘als’ possíveis. Chorei, neguei (fiz três exames porque não acreditava), esperneei, cogitei o aborto. Até que fiz o que se deve fazer: fui ao médico, fiz todos os procedimentos de rotina e descobri que aquele caroço de feijão já tinha um coração que batia lindamente. Era isso, eu queria e podia ser mãe. Eu não estava pronta (oi, irresponsabilidade), mas o que é estar pronto? Não sei até hoje.

Adiei sonhos, viagens, graduação. Aguentei toda compaixão de pessoas estranhas e outras nem tanto assim. “Coitada, tão nova”, “vai voltar pra cidadezinha dela e, no máximo, morar na casa da sogra pro resto da vida”, “não vai ter profissão”. Sério, as pessoas falam todo tipo de baboseira possível, outras a gente saca só pelo olhar de pena. Isso afeta tanto que eu já me peguei em momentos de autocompaixão.

Até que “TÁ-DÁ”! Não teve nada disso afinal, eu escolhi prosseguir, eu tava feliz com a minha condição. Eu tinha um namorado que virou marido e um pai de verdade, que compartilha cuidados, educação e psicologias malucas que a gente faz e dá certo. Onde estava mesmo a compaixão nisso?

Não foi fácil, nem de longe. Sem família por perto, não tinha ninguém para dizer como amamenta, o que fazer quando é cólica. Nada. Nadinha. Tive que descobrir e nisso a gente foi se descobrindo também. Descobri o prazer da amamentação, aquela troca de olhar e de afeto, aquela coisa linda de produzir o alimento e oferecer à cria. Claro que, às vezes, você surta, quer sair de casa, quer viver fora daquela caixa, mas quando menos se espera, a cria cresce e, olha que bacana, você descobre que pode fazer tudo na companhia dela. Ir a bares, mesmo que seja matinê, trabalhar enquanto o pai assume os cuidados e estudar enquanto ela está na escola. Uma coisa boa é que as escolas agora aceitam crianças com um ano e meio. Isso me fez poder voltar mais rápido a uma vida quase normal. 

Hoje a pequena Helena tem 3 anos, quase 4. A maior parte do tempo que a gente passa juntas eu me vejo numa espécie de contemplação. Vejo nela um marco da minha vida. A pessoa que me transformou de adolescente em mulher, em mãe-leoa. Com clichê e tudo, cada dia ela me ensina uma coisa e, às vezes, até me faz ter um pouco de vergonha de mim, porque é isso que um filho faz com você. Ele te mostra como os seus valores são burros e como pode ser fácil ser uma pessoa melhor. 


Eu poderia ter esperado a formatura ou até que eu tivesse um carro, uma casa, ou sei-lá-mais-o-quê, mas teria isso tudo e não a teria na minha vida. Eu seria menos eu. Teria sofrido menos com a vida, mas adiaria uma felicidade que se faz necessária no meu coração. 

Mas o que eu queria mesmo dizer é que é possível ter vida após a maternidade, minha gente. Gravidez precoce não é tão ruim quanto parece. Se acontecer e você decidir levar adiante, eu digo: é possível estudar, trabalhar, ser gente e, se não fosse, eu já estaria feliz, porque experimentei o maior amor que alguém pode ter na vida. Tudo estaria compensado em cada sorriso, em cada demonstração de personalidade, em cada abraço. Não estou dizendo que é tudo maravilhoso, porque não é, mas diante de tanto amor, quem se importa?

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